quinta-feira, 16 de abril de 2009

Emergência Tipo I, Dilatação/Torção Gástrica





A incidência de Torção Gástrica aumentou nos últimos 30 anos

A dilatação/Torção gástrica ocorre preferencialmente em animais de grande porte com tórax profundo, raças como o São Bernardo, Grand Danois, Weimaraner, Serra da Estrela e Boxer. O risco aumenta com a idade, mas não é pouco provável que ocorra num cão com 6 meses. A mortalidade em animais que tenham necessitado de intervenção cirúrgica varia entre os 10 – 18%, ocorrendo a maioria das mortes nos casos que necessitaram de esplenectomia e gastrectomia parcial.

Causas

A dilatação do estômago pode acorrer por diversos motivos:
  • Aerofagia;
  • Ingestão de alimentos secos;
  • Prática de exercício antes ou logo após a refeição;
  • Ingestão excessiva de água ou alimento;
  • Algum factor genético.



Como consequência desta dilatação o estômago pode fazer uma rotação sobre o seu eixo maior causando então a torção gástrica que pode levar também a uma torção esplénica.

Sintomatologia e consequências

Pode ocorrer uma dificuldade respiratória devida a pressão exercida no diafragma e tentativas de vomitar sem êxito devido á obstrução da passagem do cárdia para o esófago. Se o animal não for socorrido rapidamente entra em choque, pois o gás acumulado no estômago comprime as veias abdominais que transportam o sangue de volta para o coração, desta situação resulta uma diminuição de aporte de sangue para os tecidos que tem como consequência uma diminuição de aporte de oxigénio. Esta inadequada circulação sanguínea pode levar á necrose do estômago e ruptura da parede gástrica o que permite a entrada de toxinas na circulação sanguínea agravando ainda mais o estado do animal.

Caso Clinico, Dilatação com Torção gástrica e esplénica

Apresentou-se no Hospital Veterinário do Restelo no dia 16 de Maio de 2008, por volta da 00:20, um cão de raça São Bernardo, com 6 anos de idade, com evidente aumento volume abdominal. A dona referiu que o encontrou assim à mais ou menos 1 hora atrás, não sabendo quando terá acontecido pois é um animal que anda livre no jardim.

Achados no exame físico e
técnicas auxiliares de diagnóstico

O animal de peso 63 kg, ambulatório, apresentava abdómen muito distendido com som timpânico á percussão, mucosas ingurgitadas, taquicardia e taquipneia.
Foi encaminhado para a sala de radiografia, onde se realizou um exame radiográfico abdominal que revelou volvo gástrico.

Figura 38. Radiografia que demonstra dilatação e torção gástrica.
Colheu-se sangue para hemograma e ionograma. O hemograma realizado não revelou qualquer alteração relevante. O ionograma revelou um lactato de 4,39mmol/L (limites de referência 2,5). Os níveis de lactato no organismo é um indicador do estado de necrose gástrica, resultado da diminuição da perfusão, sendo níveis acima dos 6 mmol/L um mau prognóstico, e níveis abaixo dos 6 mmol/L têm cerca de 96% hipótese de sobrevivência.

Tratamento inicial

O animal foi canulado em ambas as cefálicas, com cateteres de grande calibre, e iniciou-se um tratamento por via intravenosa com solução de lactato de Ringer suplementado com Cloreto de Potássio (de acordo com o K sérico, que era de 4 mmol/L). Administrou-se também dois antibióticos, Ampicilina (na dose 22,5 mg/kg, por via intravenosa, TID) e Cefalexina (na dose 1 ml/18kg, por via subcutânea, BID). Foi-lhe administrado também um analgésico, Tramadol (na dose 0,06 ml/kg, por via subcutânea, BID).

Cirurgia

Após a estabilização inicial o animal foi encaminhado para a sala de cirurgia. A anestesia foi induzida com diazepam (na dose 0,1ml/kg por via intravenosa) e propofol (na dose1 ml/3kg, por via intravenosa) até entubação, sendo a manutenção da anestesia feita com isoflurano em oxigénio. Não foi possível a introdução de um tubo gástrico como tentativa de descompressão, passando-se a introduzir uma agulha de 18 – 20 G na zona caudal á direita da 13ª vértebra. Foram obtidas durante a cirurgia medições contínuas da pressão arterial, frequência cardíaca e respiratória do animal, bem como da saturação de oxigénio. A pressão arterial média esteve sempre acima dos 60 mmHg (a sistólica acima dos 90 mmHg). A frequência cardíaca a rondar os 120 bpm e a saturação sempre > 98%.
Durante o procedimento os fluidos intravenosos foram mantidos (lactato de Ringer sempre suplementado com Cloreto de Potássio).
Foi realizada gastropéxia pela técnica “belt loop” com esplenectomia, pois o baço encontrava-se comprometido, e o cão recuperou da intervenção sem complicações. Ficou internado para monitorização até 48 horas pós cirurgia.

Internamento

O Bernardo permaneceu 18h a fazer recobro pós-operatório no internamento. Durante este período manteve-se hormotérmico (39,3 – 39,4 Cº). Urinou e defecou normalmente.
Foi realizado um ECG que resultou sem alterações. A alimentação foi introduzida 17h pós-operatório (Hills Prescription diet canine i/d®) gradualmente e o animal apresentou apetite normal. Diariamente efectuou-se limpeza e mudança de penso.
Ao 4ºDia o Bernardo teve alta com exame de estado geral normal, com indicações de maneio dietético e prescrição antibiótica e analgésica.

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